LISTA DE EXERCÍCIOS
1. Leia com atenção o poema do poeta espanhol,
Reinaldo Ferreira:
Receita para se fazer um herói
Toma-se um homem
Feito de nada como
nós
Em tamanho natural
Embebece-lhe a carne
De um jeito
irracional
Como a fome, como o
ódio
Depois perto do fim
Levanta-se o pendão
E toca-se o clarim...
Serve-se morto.
a) Qual gênero literário tem por tema a
trajetória de um herói?
b) Considerando que a origem deste tipo de
narrativa remete à Antiguidade Clássica, explique por que o poeta diz que o
herói deve ser “servido” morto?
c) Considere o herói dos romances modernos, e
aponte as diferenças percebidas em relação ao herói clássico.
2. Leia o poema a seguir e responda o que se
pede:
Fanatismo
Florbela Espanca
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda minha vida!
Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!
“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isso, toda graça
Duma boca divina fala em mim!
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”
a) Por que podemos afirmar que se trata de um
poema lírico? Explique.
b) Em que forma lírica podemos classificá-lo?
Justifique sua resposta baseando-se
nos elementos estruturais do poema.
c) Apesar de ser um poema do Modernismo
português (século XX), esse poema resgata algumas características das cantigas
de amor. Identifique ao menos duas.
3. Leia o poema de Carlos Drummond de
Andrade:
Gastei uma hora
pensando um verso
que a pena não quis
escrever.
No entanto ele está
cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste
momento
inunda minha vida
inteira.
a) Reflita e analise a proposta do poeta e em
seguida explique a diferença entre “poema” e “poesia”.
4. Leia a canção a seguir:
Luísa
Tom Jobim
Lua, espada nua
Boia no céu, imensa e amarela,
Tão redonda a lua
Como flutua,
Vem navegando o azul do firmamento
E num silêncio lento,
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer, Luísa
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado, um aprendiz do teu amor
Acorda, amor, que eu sei que
Embaixo desta neve
Mora um coração.
Vem cá, Luísa,
Me dá a tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem me exorciza, dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol, nos teus cabelos,
Como um brilhante
Que partindo a luz, explode em sete cores,
Revelando em mim os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar, Luísa.
a) Essa canção, embora composta no século xx, remete a uma estrutura lírica
medieval. A qual forma lírica podemos associá-la?
b) Qual a temática desenvolvida por essa
canção?
c) Releia: “Acorda, amor, que eu sei que/ Embaixo
desta neve/ Mora um coração.” Qual comportamento da dama está indicado neste
trecho? Por que esse comportamento era importante no que concerne ao “código do
amor cortês”?
5. Leia com atenção:
A tentação de Percival
248. Persival olhou a
donzela, que lhe pareceu tão formosa, que nunca vira donzela, cuja beleza
chegasse à beleza que nela viu. Então começou-lhe a mudar o coração muitíssimo,
que todo seu costume passou, porque o seu costume era tal que nunca olhava
donzela por causa de amor, mas agora estava assim tocado de amor, que não
desejava nada do mundo; assim que viu esta donzela, parecia-lhe que fora em bom
dia nascido, se pudesse ter seu amor. E ela lhe disse:
- Senhor, que conselho me dais sobre aquilo
que vos disse? E ele respondeu assim como lhe o demo ensinava a cumprir seu
desejo e prazer:
- Donzela, não sei o que vos diga, mas se
quiserdes fazer o que vos direi, aconselharei de modo que vos tenhais por muito
bem paga.
- Senhor, disse ela, não há nada no mundo que
por vós não faça, salvante minha honra.
E ele não respondeu àquilo, mas demandava-a de
amores, e disse que, se quisesse ser sua amiga, a tomaria por mulher e a faria
ser rainha de terra muito rica e boa.
E ela disse que o não faria; ainda assim tanto
insistiu com ela, que lhe veio a outorgar tudo que pedisse, contanto que
fizesse o que lhe prometera. E ele estando nisto falando, eis que vem do céu um
tão grande ruído como se fosse trovão, e fez tão grande rebuliço, como se
movesse a terra, assim que Persival tremeu todo de pavor, e ergueu-se
espantado, e ouviu uma voz que dizia: “Ai, Persival, como há aqui tão mau
conselho! Deixas toda alegria por toda tristeza, donde te virá todo pesar e
toda má ventura.”
E pareceu-lhe que
aquela voz fora tão forte, que deveria ser ouvida por todo o mundo; e caiu
esmorecido por terra, e ficou assim muito tempo. E depois acordou e olhou ao
redor de si e viu a donzela rir, porque vira que tivera medo. E quando a viu
rir, espantou-se e logo entendeu que era o demo que lhe aparecera em semelhança
de donzela para o enganar e o meter em pecado mortal. Então ergueu a mão e
persignou-se e disse:
- Ai, Pai Jesus Cristo, Pai verdadeiro! Não me
deixes enganar nem entrar na eterna morte; e se este é o demo que me quer tirar
de teu serviço e separar de tua companhia, mostra-mo.
249. Assim que ele
isto disse, viu que a donzela se tornou em forma de demo tão feio e tão
espantoso, que não há no mundo ninguém tão valente que o visse, que não
houvesse de ter grande medo. Daí aconteceu a Persival que teve tão grande medo,
que não soube o que fizesse, senão que dissesse:
- Ai, Jesus Cristo, Pai verdadeiro, Senhor,
fica comigo.
Então viu a tenda e quanto nela havia voar
pelo ar, e, atrás dela uma escuridão, como se nela todos os do inferno
estivessem; e ficou tão espantado disto que viu, que não soube que decisão
tomar. E olhou ao redor desi e não viu outra coisa senão suas armas e seu
cavalo, como se tudo de antes fosse um sonho. Ele estando maravilhando-se, viu
vir pelo mar em sua direção uma nave tão rápida como mais podia vir nave,
quando bom tempo tivesse favorecido, e tão depressa como se cem galés corressem
atrás dela. Quando chegou perto, viu que era muito formosa e que andava coberta
com um veludo branco e não demorou muito a olhar, que aportou diante dele, e
maravilhou-se como podia vir, porque não vinha dentro marinheiro nem outra
pessoa que a pudesse guiar, mas de todo o resto, estava tão bem preparada, que
maravilha era. E ele nisto pensando, ouviu uma voz que lhe disse: “Persival,
venceste; entra nesta nave e vai-te onde te ela levar e não te espantes de nada
que vejas, e Deus te guiará onde quer que vás e tanto te acontecerá bem, que
acharás todos os companheiros do mundo que mais amas, Boorz e Galaaz.”
Quando isto ouviu, teve tão grande alegria que
maior não poderia, e agradeceu muito a Nosso Senhor, e tomou suas armas e
entrou na nave e deixou o cavalo na margem, e o vento deu na vela de modo que o
fez tão depressa partir da praia, que, em pouco tempo, perdeu a vista da terra.
a) Por sua intensa circulação entre as
cortes, as novelas de cavalaria eram um poderoso instrumento de divulgação da
visão de mundo da sociedade medieval. No excerto lido acima, identifique um
posicionamento ideológico e justifique sua escolha analisando uma passagem do
texto.
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