segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Atividade de recuperação - Literatura 1° ano


LISTA DE EXERCÍCIOS

1. Leia com atenção o poema do poeta espanhol, Reinaldo Ferreira:

Receita para se fazer um herói

Toma-se um homem
Feito de nada como nós
Em tamanho natural
Embebece-lhe a carne
De um jeito irracional
Como a fome, como o ódio

Depois perto do fim
Levanta-se o pendão
E toca-se o clarim...

Serve-se morto.

a) Qual gênero literário tem por tema a trajetória de um herói?
b) Considerando que a origem deste tipo de narrativa remete à Antiguidade Clássica, explique por que o poeta diz que o herói deve ser “servido” morto?
c) Considere o herói dos romances modernos, e aponte as diferenças percebidas em relação ao herói clássico.

2. Leia o poema a seguir e responda o que se pede:


Fanatismo
Florbela Espanca
Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu és já toda minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa...”
Quando me dizem isso, toda graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...”

a) Por que podemos afirmar que se trata de um poema lírico? Explique.
b) Em que forma lírica podemos classificá-lo? Justifique sua resposta baseando-se nos elementos estruturais do poema.
c) Apesar de ser um poema do Modernismo português (século XX), esse poema resgata algumas características das cantigas de amor. Identifique ao menos duas.

3. Leia o poema de Carlos Drummond de Andrade:

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quis escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

a) Reflita e analise a proposta do poeta e em seguida explique a diferença entre “poema” e “poesia”.

4. Leia a canção a seguir:

Luísa
Tom Jobim

Lua, espada nua
Boia no céu, imensa e amarela,
Tão redonda a lua
Como flutua,
Vem navegando o azul do firmamento
E num silêncio lento,
Um trovador, cheio de estrelas
Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer, Luísa
Eu sou apenas um pobre amador
Apaixonado, um aprendiz do teu amor
Acorda, amor, que eu sei que
Embaixo desta neve
Mora um coração.

Vem cá, Luísa,
Me dá a tua mão
O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem me exorciza, dá-me tua boca
E a rosa louca
Vem me dar um beijo
E um raio de sol, nos teus cabelos,
Como um brilhante
Que partindo a luz, explode em sete cores,
Revelando em mim os sete mil amores
Que eu guardei somente pra te dar, Luísa.

a) Essa canção, embora composta no século xx, remete a uma estrutura lírica medieval. A qual forma lírica podemos associá-la?
b) Qual a temática desenvolvida por essa canção?
c) Releia: “Acorda, amor, que eu sei que/ Embaixo desta neve/ Mora um coração.” Qual comportamento da dama está indicado neste trecho? Por que esse comportamento era importante no que concerne ao “código do amor cortês”?

5. Leia com atenção:
A tentação de Percival

248. Persival olhou a donzela, que lhe pareceu tão formosa, que nunca vira donzela, cuja beleza chegasse à beleza que nela viu. Então começou-lhe a mudar o coração muitíssimo, que todo seu costume passou, porque o seu costume era tal que nunca olhava donzela por causa de amor, mas agora estava assim tocado de amor, que não desejava nada do mundo; assim que viu esta donzela, parecia-lhe que fora em bom dia nascido, se pudesse ter seu amor. E ela lhe disse:
 - Senhor, que conselho me dais sobre aquilo que vos disse? E ele respondeu assim como lhe o demo ensinava a cumprir seu desejo e prazer:
 - Donzela, não sei o que vos diga, mas se quiserdes fazer o que vos direi, aconselharei de modo que vos tenhais por muito bem paga.
 - Senhor, disse ela, não há nada no mundo que por vós não faça, salvante minha honra.
 E ele não respondeu àquilo, mas demandava-a de amores, e disse que, se quisesse ser sua amiga, a tomaria por mulher e a faria ser rainha de terra muito rica e boa.
 E ela disse que o não faria; ainda assim tanto insistiu com ela, que lhe veio a outorgar tudo que pedisse, contanto que fizesse o que lhe prometera. E ele estando nisto falando, eis que vem do céu um tão grande ruído como se fosse trovão, e fez tão grande rebuliço, como se movesse a terra, assim que Persival tremeu todo de pavor, e ergueu-se espantado, e ouviu uma voz que dizia: “Ai, Persival, como há aqui tão mau conselho! Deixas toda alegria por toda tristeza, donde te virá todo pesar e toda má ventura.”
E pareceu-lhe que aquela voz fora tão forte, que deveria ser ouvida por todo o mundo; e caiu esmorecido por terra, e ficou assim muito tempo. E depois acordou e olhou ao redor de si e viu a donzela rir, porque vira que tivera medo. E quando a viu rir, espantou-se e logo entendeu que era o demo que lhe aparecera em semelhança de donzela para o enganar e o meter em pecado mortal. Então ergueu a mão e persignou-se e disse:
 - Ai, Pai Jesus Cristo, Pai verdadeiro! Não me deixes enganar nem entrar na eterna morte; e se este é o demo que me quer tirar de teu serviço e separar de tua companhia, mostra-mo.

249. Assim que ele isto disse, viu que a donzela se tornou em forma de demo tão feio e tão espantoso, que não há no mundo ninguém tão valente que o visse, que não houvesse de ter grande medo. Daí aconteceu a Persival que teve tão grande medo, que não soube o que fizesse, senão que dissesse:
 - Ai, Jesus Cristo, Pai verdadeiro, Senhor, fica comigo.
 Então viu a tenda e quanto nela havia voar pelo ar, e, atrás dela uma escuridão, como se nela todos os do inferno estivessem; e ficou tão espantado disto que viu, que não soube que decisão tomar. E olhou ao redor desi e não viu outra coisa senão suas armas e seu cavalo, como se tudo de antes fosse um sonho. Ele estando maravilhando-se, viu vir pelo mar em sua direção uma nave tão rápida como mais podia vir nave, quando bom tempo tivesse favorecido, e tão depressa como se cem galés corressem atrás dela. Quando chegou perto, viu que era muito formosa e que andava coberta com um veludo branco e não demorou muito a olhar, que aportou diante dele, e maravilhou-se como podia vir, porque não vinha dentro marinheiro nem outra pessoa que a pudesse guiar, mas de todo o resto, estava tão bem preparada, que maravilha era. E ele nisto pensando, ouviu uma voz que lhe disse: “Persival, venceste; entra nesta nave e vai-te onde te ela levar e não te espantes de nada que vejas, e Deus te guiará onde quer que vás e tanto te acontecerá bem, que acharás todos os companheiros do mundo que mais amas, Boorz e Galaaz.”
 Quando isto ouviu, teve tão grande alegria que maior não poderia, e agradeceu muito a Nosso Senhor, e tomou suas armas e entrou na nave e deixou o cavalo na margem, e o vento deu na vela de modo que o fez tão depressa partir da praia, que, em pouco tempo, perdeu a vista da terra.
megale, Heitor. A Demanda do Santo Graal.

a) Por sua intensa circulação entre as cortes, as novelas de cavalaria eram um poderoso instrumento de divulgação da visão de mundo da sociedade medieval. No excerto lido acima, identifique um posicionamento ideológico e justifique sua escolha analisando uma passagem do texto.

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