quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Drummond

Bizunguinhos,
andei sumida daqui, não... Mas estou de volta e deixo para vocês uns poemas de Drummond que analisaremos em sala:

A flor e a náusea
Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.


Sentimental

Ponho-me a escrever teu nome
Com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando ...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."

Política literária

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.

Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz


Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

3° ano

Bizunguinhos,

na segunda-feira tive ocasião de ver a cena indicada no link abaixo:
http://cordelencantado.globo.com/capitulo/ursula-ajuda-acucena-a-fugir-do-palacio.html#cenas/1510750

Trata-se da conversa do Rei Augusto com Jesuíno, da novela Cordel Encantado, exibida às 18h30, na TV Globo.

Peço que a assistam (basta copiar e colar o link) com atenção, observando a argumentação no diálogo dos personagens.
Em sala, na aula de teoria do texto, discutiremos algumas questões relevantes a respeito da cena, pensando aspectos discursivos, estéticos e sociais ali desenvolvidos.

É bem curtinho! Assistam!

Beijocas

ps.: pequenitas do 1°A, valeu pela dica! Achei facinho o capítulo, no site da emissora, como vocês bem o disseram! Só não consegui copiar a URL, mas tá valendo! ;)

sábado, 7 de maio de 2011

Bizunguinhos,

recentemente recebemos a visita de Vítor Quarenta, aluno do colégio Equipe, que veio ao Marupiara falar sobre o grêmio estudantil.
Na reunião, que foi agradável e muito produtiva, Vítor nos fez um convite para o 2° festival de curtas Evandro Capivara, que ele e outros alunos associados à Poligremia organizam.
Vale a pena conferir. Os curtas são produzidos por alunos do Ensino Médio e serão exibidos no sábado, 21 de maio de 2011, das 14h às 18h, no Teatro do Colégio Santa Cruz (R.Orobó, 277, próximo à estação de trem Cidade Universitária)






Para mais informações, visite o blog do evento: http://evandrocapivara.blogspot.com/

Beijocas
Amanda

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Graaaaaaaande, Luís Otávio!!

Lá estou eu de novo discutindo as peças publicitárias produzidas pela mídia... Mas é quase impossível não discuti-las!
A de hoje é a mais recente proposta da "amorosa" operadora de celulares "Vivo". A anterior, aquela em que figurantes ficavam formando palavras (clichês a beça!) com as letras impressas em suas camisetas, já me irritava um tanto (hoje estou passional!). Principalmente quando surgia a "pérola" pronunciada no slogan ao final da palhaçada toda: "o amor nos conecta. A conecção nos transforma. Vivo conecção como nenhuma outra".
"AMOR"? Ei, alguém me explica o que isso tem a ver com o serviço prestado pela caríssima operadora? Se alguém me responder que é por causa da possibilidade de efetuar uma ligação, eu vou ficar preocupada, pois depois da sucessão de clichês do tipo "politicamente correto", apontados naquelas palavras, o que sobra é o consumo.

Mas se não bastasse essa para representar o limite do mau-gosto e da hipocrisia capitalista, eles lançaram o "graaaaaaaande Luís Otávio"...
Você saberia me dizer o que há de mais chocante nessa propaganda?
Assistamos:


E aí? Notou?
Os dois meninos ciumentos discutem o novo relacionamento da avó. Vovó?! Namorando?! Que moderno, não?! Alguém diria que a Vivo estaria valorizando a emancipação da mulher. Entretanto, uma leitura mais cuidadosa do texto demonstra o contrário e vemos que a cultura machista está arraigada e parece constitutiva do discurso brasileiro.

De fato, a peça discute os novos tempos... A vovó não faz o almoço para o vovô e crochê/tricôt para os netinhos... ela namora. E os netos "machinhos", nesse contexto, já não podem mais proibi-la de namorar, como outrora... mas reclamam entre si.
E o tal Luís Otávio que viaja de outro estado para namorar? Para os meninos, um mané-sem-noção, até que... Até que aparece o "brinde": nada menos que sua própria neta!
Lembrei-me das batalhas medievais, em que as filhas/irmãs eram prêmio de guerra ao soldado valente!
Que armadilha perigosa construiu o enunciador! Ao incluir a "neta" e a reação positiva do menino frente a ela, fica sugerido o final do conflito "neto da vovó"
x "Luís Otávio", afinal a "Júlia" (a neta do Luís) poderá "distrair" o garoto enquanto o vovô namora!
Ufa! Essa foi de doer!

Insisto que a língua portuguesa não é machista, mas o discurso brasileiro, meu Deus, como é!!
Muitos referem ser machista o uso do masculino como "generalizador" das categorias feminino/masculino. Mas fato é que em português, raras são as palavras com marca de masculino. Exemplo simples consta no uso do "eles". Se enuncio "eles estão na sala" posso estar falando de meninos e meninas. Mas o mesmo não será possível se disser "elas estão na sala", em que só poderei concluir que estejam presentes as meninas.
Não será escrevendo textos aos "homens e mulheres", "meninos e meninas", "deputados e deputadas", etc, que demonstraremos preocupação com a condição de homens e mulheres em nossa sociedade, mas, sobretudo, modificando nossa relação com cada uma dessas "categorias".
Nessa propaganda, "Júlia" é poder de barganha para o tal Luís Otávio... o que é, no mínimo, desrespeitoso com as vovós e júlias de nosso país... mas, infelizmente, raramente pensamos nisso!

uf!
Beijocas
;)
Amanda

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Publicações

Bizunguinhos,
a professora Patrícia (História - Fund II) mandou-nos um email divulgando o convite da revista de geopolítica Glocal (parceria USP/Cursinho do Henfil): "Escreva o mundo de hoje".
Trata-se de uma proposta ao alunos (e professores) que queiram escrever artigos, resenhas ou ensaios para colaborar com a revista. As informações estão nos links abaixo:

http://www.cursinhohenfil.org.br/glocal.asp

http://www.cursinhohenfil.org.br/edital_glocal.pdf (edital para participação)

Aos futuros jornalistas "marupienses" é um prato cheio!!!

beijocas

Cordel

Bizunguinhos,
olha que bacana:

Oficina de Literatura de Cordel - Sesc Consolação
Dias 11/04 e 12/04 -Segunda e terça, das 15 às 17h.
Oficina de Criação Literária com César Obeid
Rua Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque
Telefone: 11 3234-3000


A quem se interessar, fica a dica!!
Beijocas

sexta-feira, 25 de março de 2011

Novo acordo ortográfico

Olá meninos e meninas,
esse post é contribuição da Thaís Carrara (3°A).
Ela encontrou um site que literalmente brinca com a novoa ortografia.
Trata-se de um jogo que propõe alternativas para que o jogador verifique seu domínio das novas regras. É divertido e bem fácil de jogar...
Quem topa o desafio?
http://www.fmu.br/game/home.asp

beijos

segunda-feira, 21 de março de 2011

Não foi sem querer!

É lamentável o estado das coisas hoje! A vida é tão banalizada que muitas vezes viver ou morrer não é o que importa, desde que seja de tênis da marca X, na volta da balada Y, no carrão Z... Não somos, temos - eis o lugar comum, que de tão repetido deixou de nos fazer realmente refletir.
Mas o discurso do "ter" me incomoda (ainda mais) pela sua renitência nessa campanha:



Somos narcisos contentes não só quando nos vemos refletidos, mas - principalmente - quando vemos pelo reflexo de nós mesmos a inveja do outro que nos observa do lugar de quem não tem. Eis o aviso das "hondas"!
Na campanha, ser "O" proprietário é o que satisfaz... No reflexo, e em primeiro plano, o que se tem; e de fundo, um eco de "quem tem" - de humano, nada!
É por isso que alguns se acham no direito de atropelar aqueles que têm algo de humano; que não ficam observando "os-proprietários-satisfeitos-de-não-importa-que-carro", quando esses, se olhando nos "espelhos", querem passar!

Só queria deixar minha contribuição para o MOVIMENTO MARUPIARA À FAVOR DA DEMOCRACIA E DA PAZ NO TRÂNSITO.

Valeu, Renato, por levantar essa questão!

;)
Amanda

terça-feira, 15 de março de 2011

Atividade para 3° anos

Olá, bizunguinhos,
o link abaixo encaminha-los-á (gastei o latim, hehe!) ao sítio "Domínio público". Baixem gratuitamente o texto de Lima Barreto, Clara dos anjos, e leiam, pois eu o abordarei em sala...

Um, dois, três... e... VALENDO NOTA:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2060



Boa leitura!
Amanda

ps.: Se vocês pensaram "ninguém merece", permitam-me uma correção, vocês merecem sim!!! Afinal, sou professora de vocês. ;)
Beijocas

Tutoria - 1°B

Queridos alunos,
assistam com atenção o vídeo a seguir. Reflitam.
Quero abordá-lo em sala, na próxima atividade da tutoria.

Beijocas
Amanda

quinta-feira, 10 de março de 2011

domingo, 6 de março de 2011

A arte do entusiasmo...


(Henrique Bernadelli - 1857-1936; Interior com a menina que lê)


Olá, bizunguinhos!
espero que estejam aproveitando bastante o feriadão...
Eu estou... e hoje fui ao MASP! Que deliciosa surpresa...
Saí de casa decidida a ver o acervo do museu e quando lá cheguei vi mais que isso. Deparei-me com a exposição Romantismo, a arte do entusiasmo, montada com obras do acervo do MASP. Foi inevitável lembrar de vocês!

E sabem por quê? Porque, como sempre digo a vocês, ao contrário do que pretende a disposição didática das escolas literárias/artísticas, arte é uma coisa dinâmica em que as estéticas acontecem ao mesmo tempo, em movimentos de ruptura e continuidade.

Vale a pena conferir essa belíssima exposição!

As obras selecionadas pela curadoria de Teixeira Coelho datam desde o século XVI e chegam até os dias atuais, mostrando que o Romantismo tem muitas faces e não se limita a acontecer na primeira metade do século XIX.
M A R A V I L H O S O!
Confiram...
beijinhos
Amanda

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Sintaxe à vontade...

Bizunguinhos,

olha só que bacana a dica do Pedrinho (3°B)...
Trata-se do grupo Teatro Mágico. Nesse vídeo eles brincam à vontade com os conceitos da sintaxe e criam uma verdadeira "canção manifesto"... os modernistas iam gostar.
Beijocas

domingo, 20 de fevereiro de 2011

O Brasil de Marc Ferrez

Olá, bizunguinhos,

quando penso saídas para nosso curso, sempre lamento o fim da exposição "O Brasil de Marc Ferrez", o que ocorreu lá pelos idos de 2007 (se me lembro bem).
Mas fuçando na internet (bendita ferramenta!) descobri que na página do Instituto Moreira Sales, que detém um belíssimo acervo do fotógrafo, há a possibilidade de visualização de 108 chapas que revelam o Brasil e principalmente o Rio de Janeiro do final do século XIX e início do século XX.
São belíssimas fotografias e nos ajudam a pensar o Brasil/Rio da Belle Époque.
Este link:
http://ims.uol.com.br/hs/marcferrez/marcferrez.html
é particularmente interessante aos terceiros e segundos anos, mas recomendo a todos!!!

Para dar um gostinho e instigar a pesquisa,

lá vai um foto da Avenida Central (RJ):






E uma do Pão de Açúcar:




bon voyage, à tous!

beijocas...
Amanda

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Qual a função da arte?

Olá, pequenitos,
depois de um longo silêncio, cá estou eu novamente!
Boas-vindas a todos...
Este post é para que os primeiros anos antecipem uma questão que norteará nossa reflexão nesta semana que entra, e para os segundos e terceiros anos relembrarem uma "antiga" discussão...
Quem pode me responder qual é a função da arte e do artista?

O escritor gaúcho Érico Veríssimo (1905-1975), respondendo a esta questão, escreveu certa vez:
"Lembro-me de que certa noite - eu teria uns quatorze anos, quando muito - encarregaram-me de segurar uma lâmpada elétrica à cabeceira da mesa de operações, enquanto um médico fazia os primeiros curativos num pobre-diabo que soldados da Polícia Municipal haviam 'carneado'. [...] Apesar do horror e da náusea, continuei firme onde estava, talvez pensando assim: se esse caboclo pode aguentar isso sem gemer, por que não hei de poder ficar segurando esta lâmpada para ajudar o doutor a costurar esses talhos e salvar essa vida?
Desde que, adulto, comecei a escrever romances, tem-me animado até hoje a ideia de que o menos que o escritor pode fazer, numa época de atrocidades e injustiça como a nossa, é acender a sua lâmpada, fazer luz sobre a realidade do mundo, evitando que sobre ele caia a escuridão, propícia aos ladrões, aos assassinos e aos tiranos. Sim, segurar a lâmpada, a despeito da náusea e do horror. Se não tivermos uma lâmpada elétrica, acendamos o nosso toco de vela ou, em último caso, risquemos fósforos repetidamente, como um sinal de que não desertamos nosso posto."
(VERÍSSIMO, Érico (1978). Solo de clarineta. Porto Alegre: Globo. p. 44-5, apud: Abaurre, M. L. et all. (2008) Português. Contexto, interlocução e sentido. São Paulo: Moderna)

E o que mais dizer depois disso?? Que bela metáfora, não?!
Notem que o texto é de 1978 e em 2011 poderíamos repetir que vivemos uma época de atrocidades e injustiça... Como estaríamos, então, se não fossem os éricos veríssimos a nos riscarem seus fósforos?
Precisamos da arte... não porque ela resolve o mundo, mas porque ele nos lembra que temos um mundo para resolver.



beijocas
Amanda