quarta-feira, 20 de abril de 2011

Graaaaaaaande, Luís Otávio!!

Lá estou eu de novo discutindo as peças publicitárias produzidas pela mídia... Mas é quase impossível não discuti-las!
A de hoje é a mais recente proposta da "amorosa" operadora de celulares "Vivo". A anterior, aquela em que figurantes ficavam formando palavras (clichês a beça!) com as letras impressas em suas camisetas, já me irritava um tanto (hoje estou passional!). Principalmente quando surgia a "pérola" pronunciada no slogan ao final da palhaçada toda: "o amor nos conecta. A conecção nos transforma. Vivo conecção como nenhuma outra".
"AMOR"? Ei, alguém me explica o que isso tem a ver com o serviço prestado pela caríssima operadora? Se alguém me responder que é por causa da possibilidade de efetuar uma ligação, eu vou ficar preocupada, pois depois da sucessão de clichês do tipo "politicamente correto", apontados naquelas palavras, o que sobra é o consumo.

Mas se não bastasse essa para representar o limite do mau-gosto e da hipocrisia capitalista, eles lançaram o "graaaaaaaande Luís Otávio"...
Você saberia me dizer o que há de mais chocante nessa propaganda?
Assistamos:


E aí? Notou?
Os dois meninos ciumentos discutem o novo relacionamento da avó. Vovó?! Namorando?! Que moderno, não?! Alguém diria que a Vivo estaria valorizando a emancipação da mulher. Entretanto, uma leitura mais cuidadosa do texto demonstra o contrário e vemos que a cultura machista está arraigada e parece constitutiva do discurso brasileiro.

De fato, a peça discute os novos tempos... A vovó não faz o almoço para o vovô e crochê/tricôt para os netinhos... ela namora. E os netos "machinhos", nesse contexto, já não podem mais proibi-la de namorar, como outrora... mas reclamam entre si.
E o tal Luís Otávio que viaja de outro estado para namorar? Para os meninos, um mané-sem-noção, até que... Até que aparece o "brinde": nada menos que sua própria neta!
Lembrei-me das batalhas medievais, em que as filhas/irmãs eram prêmio de guerra ao soldado valente!
Que armadilha perigosa construiu o enunciador! Ao incluir a "neta" e a reação positiva do menino frente a ela, fica sugerido o final do conflito "neto da vovó"
x "Luís Otávio", afinal a "Júlia" (a neta do Luís) poderá "distrair" o garoto enquanto o vovô namora!
Ufa! Essa foi de doer!

Insisto que a língua portuguesa não é machista, mas o discurso brasileiro, meu Deus, como é!!
Muitos referem ser machista o uso do masculino como "generalizador" das categorias feminino/masculino. Mas fato é que em português, raras são as palavras com marca de masculino. Exemplo simples consta no uso do "eles". Se enuncio "eles estão na sala" posso estar falando de meninos e meninas. Mas o mesmo não será possível se disser "elas estão na sala", em que só poderei concluir que estejam presentes as meninas.
Não será escrevendo textos aos "homens e mulheres", "meninos e meninas", "deputados e deputadas", etc, que demonstraremos preocupação com a condição de homens e mulheres em nossa sociedade, mas, sobretudo, modificando nossa relação com cada uma dessas "categorias".
Nessa propaganda, "Júlia" é poder de barganha para o tal Luís Otávio... o que é, no mínimo, desrespeitoso com as vovós e júlias de nosso país... mas, infelizmente, raramente pensamos nisso!

uf!
Beijocas
;)
Amanda

11 comentários:

  1. olha, acho que você exagerou um pouco..era só ter falado que a idade das piriguetes da televisão cada vez fica menor, que ja seria uma ótima crítica..a essa julia vai ficar gatíssima ein! aeuhueah

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  2. Vida longa ao machismo!HAHAHAHAH brincadeirinha professora,mas como você analisou uma propaganda de tal forma? Quando eu a vi...não se passou nada na minha cabeça e no fim dela eu simplesmente ri! E você fez toda uma reflexão...isso é complexo demais, mas pra mim não tem como tirar o machismo de nossa cultura pois há várias coisas que os homens se destaca com mais facilidade do que as mulheres, e vice-versa,mas isso são hábitos que vem do passado. Mas também há varios discursos que são feministas também,é algo eminente em qualquer cultura. tchauzinhu!

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  3. Olá, Vitto!
    Obrigada pelo seu tempo. Fiquei contente com seu comentário, porque ao contrário do que ando recebeno, o seu é mesmo um contra-argumento e isso é fundamental porque permite o diálogo respeitoso!
    É, é complexo. Diria também, polêmico!
    Mas o fato de haver habilidades tipicamente masculinas e outras, femininas, não deveria ser condicionante do machismo/ feminismo. E, se assim fosse, poderíamos apenas reconhecer as diferenças sem valorá-las, ou seja, sem dizer que um é melhor que o outro.
    Além disso, não é porque são hábitos do passado que não devemos questioná-los.
    Para mim, nem o feminismo, nem o machismo! Ambos são radicais. Penso que deveríamos apenas nos respeitar, e só!

    beijoca

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  4. Guilherme,
    posso até ter exagerado, mas não creio que a questão seja de "piriguetes na televisão". Seu comentário foi machista... Então a menina Júlia é que é o problema?
    Obrigada pelo seu tempo!
    bj

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  5. Na maioria das vezes, esse tipo de reflexão não é alcançada graças a falta de conhecimento e olhar crítico das pessoas, onde estas acreditam em tudo que se passa na televisão é verdadeiro e certo.
    Além do discurso machista há tambem um reflexo da nossa sociedade captalista onde tudo pode ser trocado, negociado, vendido. Para que Luis Otávio fica com a vovó ele traz a sua neta como distração dos garotos, ou seja, em tudo há uma relação de interesse e objetivos a serem alcançados. Sendo esses valores de troca são muito mais antigos que a operadora Vivo, da televisão, da vovó, entre os outros objetos trabalhados na propaganda.

    Leonardo Ponte 3° B

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  6. Olá Amanda! Mais uma vez vem você contribuindo para a reflexão da moçada!
    Ei, peraí! Você invadiu as áreas de Filosofia e Sociologia! AINDA BEM!!!!
    E os alunos sabem do que eu estou falando.
    O tal senso comum, tão comentado nas aulas de Filosofia como o grande inimigo da reflexão racional, está posto na propaganda. Só que agora, nós percebemos como ele é produzido em nossa cultura e o que ele pode produzir.
    Primeiro: numa sociedade cujo valor mais alto é o consumo, o ditador (sem aspas mesmo) de nossos comportamentos e valores sociais é a propaganda. Muito daquilo que acreditamos e introjetamos em nossa vida prática cotidiana nos é dado pelos veículos de comunicação de massa. Segundo: o senso comum é o pai e o mantenedor dos preconceitos, dos discursos discriminatórios que nós, "inocentes" (sim, agora com aspas!)consumidores praticamos muitas vezes sem perceber. Sem perceber, porque não refletimos.
    Agora me responda(m): esses criadores de anúncios e os diretores de grandes corporações, faltaram às aulas onde discussões éticas eram colocadas, ou estão se fazendo de bobos? Ou existe má intenção mesmo?
    E onde estão as moças comentando esta postagem da professora e os comentários de dos machos, digo: moços?
    Esse silêncio me assusta...
    Valeu Amanda! Valeu alunos!

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  7. Amanda, também confesso que jamais pararia para uma reflexão como essa. Como a maioria, esta é mais uma das propagandas sem criatividade, na minha opinião hehe. Esses homens machistas nunca aparecem com argumentos aceitáveis, dizem sempre as mesmas coisas!!!! Vamos acabar com isso!!!

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  8. Poxa, Sebá!
    Valeu pelo seu tempo! Fiquei contente pela visita.
    É, as meninas não se manifestaram, infelizmente. Parece que o texto incomodou mais aos rapazes, pois além dos meninos que estão publicados, uns machinhos que só fizeram reafirmar o que eu dizia no texto, falaram umas baixarias... Fazer o quê! Estão educados por essa mídia, como você bem o disse. Que pena!
    Pensar, mais que isso, refletir, é um exercício que eles precisam aprender, porque contra-argumentar é saudável, mas deve haver fundamento e respeito.

    Obrigada pela valiosa contribuição!
    beijo
    ;)

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  9. Pois é, Bê!
    E finalmente uma voz feminina se manifestando, hehe!
    Obrigada pelo seu tempo.;)

    beijos

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  10. Amanda, sinceramente, você esta olhando por um ponto de vista que, quando esse comercial foi feito, ninguém olhou. Você acha mesmo que na hora que a pessoa que teve a idéia de criar esse comercial pensou nisso? Não, o publicitário na hora em que pensou no comercial, quis divulgar sua marca de uma forma divertida, e que as pessoas que o vissem achassem graça em relação ao produto. E não o que isso iria repercutir por muitos outros lados. Ele só quer divulga o produto de uma forma que todos entendam que isso não é nem uma demonstração de machismo, e sim uma forma engraçada de se divulgar. Vlw ;)

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  11. Leo e Franco, obrigada pelo tempo de vocês!!!
    Fico contente que tenham se disposto a participar desta polêmica. Valeu pela contribuição.

    É, Franco, o que mais me assusta é, de fato, a possibilidade de o publicitário nem ter pensado no que fez! Lamentável que achemos graça e naturalizemos certos comportamentos a ponto de sequer refletirmos sobre o que divulgamos.

    beijos, meninos

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