quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Lista de exercícios - 2° ano


1. Leia com atenção o excerto extraído do poema I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias.



Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimoréis;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossêgo
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.



a) Por que podemos afirmar queo perfil de herói projetado no excerto acimase vincula ao ideal de “bom selvagem” desenvolvido por Jean-Jacques Rousseau? Justifique utilizando passagens do texto.

b) I-Juca Pirama é um poema emblemático da corrente de primeira geração do Romantismo, a indianista. Entretanto, formalmente notamos traços clássicos à medida que o autor opta por desenvolver versos metrificados e rimados. Explique por que isso acontece.

2. A corrente nacionalista portuguesa desenvolverá sua temática em torno do resgate do passado medieval português. Explique por que isso acontece, considerando o contexto político-social e estético.

3. Considere a afirmação do professor Luiz Roncari:

Indianismo não significa apenas tomar como tema e assunto da literatura o indígena e seus costumes. Isso, de certa forma, já tinha sido feito por Basílio da Gama e Santa Rita Durão, no Uraguai e no Caramuru. Nessas obras, sobretudo no Uraguai, os indígenas aparecem, em alguns momentos, no mesmo plano que o português, sem que nenhum desses autores manifestasse a intenção de realizar uma poesia nova ou americana. Tal realização implicava também e principalmente a construção de um novo ponto de vista e de uma nova visão do indígena, apreciado agora menos como uma realidade racial que como outra realidade ética e cultural, distinta da europeia.”

A partir desta afirmação, explique por que Iracema pode ser considerado um romance indianista.

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